quarta-feira, 14 de março de 2018

Estórias da história do futsal (I) - Por LHÉ (Leonel Pereira Dias)

No final da época de 97/98, fomos informados no Atlético, que a secção de futsal iria arrancar com um novo projecto e quem estaria à frente desse projecto, seria o Alípio Matos, que para além de trazer investimento, iria ser o novo treinador. Foi-nos dito, que ele estava interessado em alguns de nós, entre os quais figurava o meu nome, o do meu irmão Zézito, o António Teixeira e o Vitinha Palhas, que seriam prioridades para o Alípio. O Vitinha Palhas acertou logo com o Alípio e eu estava em negociações com ele e havia um impasse: quem me pagaria os subsídios em atraso? O Alípio dizia que a dívida não era dele, eu contrapunha e dizia que na hora de jogar, iria entrar com a camisola do Atlético e não com a do Alípio. Para ser justo a proposta do Alípio era boa, em consonância com os valores que se praticavam na altura e eu estava tentado em aceitar e pedi um tempo ao Alípio. Entretanto, o meu irmão e o António aceitaram uma oferta do Sporting e eu fiquei apreensivo e manifestei esse incomodo ao Luís Alves. Era comum no defeso, entre Junho e Julho, a malta se reunir para jogar torneios e eu jogava para um patrocinador, que para além de nos pagar 5 contos por jogo, ( era com esse dinheiro que eu pagava as caracoladas e imperiais ) nos dava o prémio do torneio para uma grande jantarada. Estávamos a disputar o torneio de Vila Verde e o Alves era o nosso treinador e numa conversa de bar, o presidente do Vila Verde ( Moinhos ) veio ter comigo e pediu-me a opinião sobre o Luís Alves. O Vila Verde tinha descido e ele tinha um projecto, para rapidamente o Vila Verde regressar à 1ª divisão. Eu disse-lhe que o Alves era bom, que se houvesse investimento seguro, o projecto tinha pernas para andar. O Alves aceitou a oferta do Vila Verde e eu sugeri ao Alves, que olhasse para os irmãos do CAO, ( Paulinho e João ) para além de serem raçudos e tesos, tinham experiência de 1ª divisão e na 2ª divisão isso seria uma mais valia. O Alves seguiu a minha orientação e para além dos dois irmãos, conseguiu também o Vitor Deus, que completava o trio do CAO. Entretanto, recebi um ultimato do Alípio ( que subiu a parada em 5 contos ) mas queria a minha resposta o mais tardar na segunda - feira, após a conclusão do torneio do Vila Verde. Andava eu nesse dilema e diz-me o Alves: Ouve lá, Lhé: o Moinhos abeirou-se de mim e disse que tinha orçamento para ir buscar um jogador caro e eu disse-lhe que se tinha orçamento para ir buscar um jogador, esse alguém eras tu! Queres falar com eles? Disse que sim ( não perdia nada ) e combinei um encontro com o tesoureiro, o Moinhos e outro ( não me lembro do nome ) no Tico-Tico, em Alvalade. Aceitaram tudo o que eu pedi e deram-me um prémio de assinatura no valor da dívida do Atlético. Nesse ano fomos à final Four ( Paços de Ferreira ) e perdemos na final. Estávamos em Junho e o Sporting estava na luta pelo título. No dia 26/06/99 o Sporting deslocava-se ao choradinho ( Freixieiro ) e se ganhasse conquistaria o titulo de campeão. Eu fazia anos no dia 27 e nesse dia saí de casa para ir comprar marisco, - tinha agendado uma festa para o dia dos meus anos e passo por uma carrinha de 9 lugares e diz-me o Zé Freitas em uníssono com o Alves: Ó Lhé, nós vamos ao Freixieiro ver o Sporting, não queres vir connosco? Digo eu: não posso, faço anos amanhã e prometi um petisco, para a malta e tenho de ir comprar o marisco. Diz-me o Zé Freitas: ( trabalhava na pescanova ) anda com a gente, que eu arranjo-te uma caixa de sapateiras e o camarão que tu queiras. Digo eu: posso ir, mas só com uma condição: ir-mos almoçar à Mealhada, ao Vergílio dos Leitões. Depois de uma curta negociação, aceitaram, e lá fomos nós. Chegados ao Choradinho, fui para a claque familiar ( amigos do meu irmão e do Vitinha ) e no intervalo do jogo, vou ao bar e dou de caras com o Gil, e diz-me este assim: é pá, estás aqui? Bebemos uma cerveja e diz ele assim: estivemos em Paços de Ferreira e o nosso treinador ficou encantado contigo e eu falei de ti, disse que eras craque e que tinhas sido grande jogador no Sporting. Se eles te convidarem queres vir jogar para aqui? Eu fiz as contas e disse: se cobrirem aquilo que eu ganho, no trabalho e no Vila Verde, mais ajudas de custo, casa e roupa lavada é questão de conversar. Aquilo passou e eu estava de férias, em Agosto; tinha comprado um telemóvel Nokia 3210 ( o meu primeiro ) e estava na praia, na Costa da Caparica. Tinha ido almoçar à Fonte da Telha: para lá fui de trem e para cá vim a pé, junto ao mar e estava esticado ao sol, na praia da Morena quando recebo um telefonema: era o António Ramos a dizer que o Luís Rodrigues queria falar comigo e se eu lhe dava autorização de lhe dar o meu contacto. Recebo o telefonema do Luìs Rodrigues ( tinha sido meu treinador no Atlético ) e diz.me ele: Ouve lá, Lhé: os tipos do Freixieiro querem te contratar e o Mário Brito quer falar contigo, queres falar com ele? Dá-lhe o meu número e ele que me contacte, é questão de falar. No outro dia, estava eu na praia da Morena, esticado ao sol e recebo um telefonema: era o Mário Brito. Foi fácil um entendimento e ele falou: preciso de que assines a papelada, como vamos fazer? Digo eu: venha a Lisboa que eu assino. Ele falou que veria no dia seguinte e perguntou: podes ir ter comigo ao aeroporto? Moro ao lado, retorqui eu. E foi assim que eu fui para o Freixieiro. Acaso, sorte e destino: tudo junto se congeminou para que eu fosse realizar um sonho: ser pago por uma coisa que adorava fazer. Ainda hoje eu digo: cada vez que me pagavam por jogar à bola, eu exclamava: ainda me pagam para fazer uma coisa que eu faria de...borla.

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