No final da época de 97/98, fomos informados no Atlético, que a secção
de futsal iria arrancar com um novo projecto e quem estaria à frente
desse projecto, seria o Alípio Matos, que para além de trazer
investimento, iria ser o novo treinador. Foi-nos dito, que ele estava
interessado em alguns de nós, entre os quais figurava o meu nome, o do
meu irmão Zézito, o António Teixeira e o Vitinha Palhas, que seriam
prioridades para o Alípio. O Vitinha Palhas acertou logo com o Alípio e
eu estava em negociações com ele e havia um impasse: quem me pagaria os
subsídios em atraso? O Alípio dizia que a dívida não era dele, eu
contrapunha e dizia que na hora de jogar, iria entrar com a camisola do
Atlético e não com a do Alípio. Para ser justo a proposta do Alípio era
boa, em consonância com os valores que se praticavam na altura e eu
estava tentado em aceitar e pedi um tempo ao Alípio. Entretanto, o meu
irmão e o António aceitaram uma oferta do Sporting e eu fiquei
apreensivo e manifestei esse incomodo ao Luís Alves. Era comum no
defeso, entre Junho e Julho, a malta se reunir para jogar torneios e eu
jogava para um patrocinador, que para além de nos pagar 5 contos por
jogo, ( era com esse dinheiro que eu pagava as caracoladas e imperiais )
nos dava o prémio do torneio para uma grande jantarada. Estávamos a
disputar o torneio de Vila Verde e o Alves era o nosso treinador e numa
conversa de bar, o presidente do Vila Verde ( Moinhos ) veio ter comigo e
pediu-me a opinião sobre o Luís Alves. O Vila Verde tinha descido e ele
tinha um projecto, para rapidamente o Vila Verde regressar à 1ª
divisão. Eu disse-lhe que o Alves era bom, que se houvesse investimento
seguro, o projecto tinha pernas para andar. O Alves aceitou a oferta do
Vila Verde e eu sugeri ao Alves, que olhasse para os irmãos do CAO, (
Paulinho e João ) para além de serem raçudos e tesos, tinham experiência
de 1ª divisão e na 2ª divisão isso seria uma mais valia. O Alves seguiu
a minha orientação e para além dos dois irmãos, conseguiu também o
Vitor Deus, que completava o trio do CAO. Entretanto, recebi um ultimato
do Alípio ( que subiu a parada em 5 contos ) mas queria a minha
resposta o mais tardar na segunda - feira, após a conclusão do torneio
do Vila Verde. Andava eu nesse dilema e diz-me o Alves: Ouve lá, Lhé: o
Moinhos abeirou-se de mim e disse que tinha orçamento para ir buscar um
jogador caro e eu disse-lhe que se tinha orçamento para ir buscar um
jogador, esse alguém eras tu! Queres falar com eles? Disse que sim ( não
perdia nada ) e combinei um encontro com o tesoureiro, o Moinhos e
outro ( não me lembro do nome ) no Tico-Tico, em Alvalade. Aceitaram
tudo o que eu pedi e deram-me um prémio de assinatura no valor da dívida
do Atlético. Nesse ano fomos à final Four ( Paços de Ferreira ) e
perdemos na final. Estávamos em Junho e o Sporting estava na luta pelo
título. No dia 26/06/99 o Sporting deslocava-se ao choradinho (
Freixieiro ) e se ganhasse conquistaria o titulo de campeão. Eu fazia
anos no dia 27 e nesse dia saí de casa para ir comprar marisco, - tinha
agendado uma festa para o dia dos meus anos -, e passo por uma carrinha
de 9 lugares e diz-me o Zé Freitas em uníssono com o Alves: Ó Lhé, nós
vamos ao Freixieiro ver o Sporting, não queres vir connosco? Digo eu:
não posso, faço anos amanhã e prometi um petisco, para a malta e tenho
de ir comprar o marisco. Diz-me o Zé Freitas: ( trabalhava na pescanova )
anda com a gente, que eu arranjo-te uma caixa de sapateiras e o camarão
que tu queiras. Digo eu: posso ir, mas só com uma condição: ir-mos
almoçar à Mealhada, ao Vergílio dos Leitões. Depois de uma curta
negociação, aceitaram, e lá fomos nós. Chegados ao Choradinho, fui para a
claque familiar ( amigos do meu irmão e do Vitinha ) e no intervalo do
jogo, vou ao bar e dou de caras com o Gil, e diz-me este assim: é pá,
estás aqui? Bebemos uma cerveja e diz ele assim: estivemos em Paços de
Ferreira e o nosso treinador ficou encantado contigo e eu falei de ti,
disse que eras craque e que tinhas sido grande jogador no Sporting. Se
eles te convidarem queres vir jogar para aqui? Eu fiz as contas e disse:
se cobrirem aquilo que eu ganho, no trabalho e no Vila Verde, mais
ajudas de custo, casa e roupa lavada é questão de conversar. Aquilo
passou e eu estava de férias, em Agosto; tinha comprado um telemóvel
Nokia 3210 ( o meu primeiro ) e estava na praia, na Costa da Caparica.
Tinha ido almoçar à Fonte da Telha: para lá fui de trem e para cá vim a
pé, junto ao mar e estava esticado ao sol, na praia da Morena quando
recebo um telefonema: era o António Ramos
a dizer que o Luís Rodrigues queria falar comigo e se eu lhe dava
autorização de lhe dar o meu contacto. Recebo o telefonema do Luìs
Rodrigues ( tinha sido meu treinador no Atlético ) e diz.me ele: Ouve
lá, Lhé: os tipos do Freixieiro querem te contratar e o Mário Brito quer
falar contigo, queres falar com ele? Dá-lhe o meu número e ele que me
contacte, é questão de falar. No dia seguinte, estava eu na praia da
Morena, esticado ao sol e recebo um telefonema: era o Mário Brito. Foi
fácil um entendimento e ele falou: preciso de que assines a papelada,
como vamos fazer? Digo eu: venha a Lisboa que eu assino. Ele falou que
veria no dia seguinte e perguntou: podes ir ter comigo ao aeroporto?
Moro ao lado, retorqui eu. E foi assim que eu fui para o Freixieiro.
Acaso, sorte e destino: tudo junto se congeminou para que eu fosse
realizar um sonho: ser pago por uma coisa que adorava fazer. Ainda hoje
eu digo: cada vez que me pagavam por jogar à bola, eu exclamava: ainda
me pagam para fazer uma coisa que eu faria de...borla.
Lhé (Leonel Pereira Dias)
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